Em uma manobra que levantou mais dúvidas do que esclarecimentos, a Câmara Municipal de Parnaíba aprovou nesta quinta-feira (29) um projeto de autoria do prefeito Francisco Emanuel que autoriza a realização de um teste seletivo para a contratação de 180 professores temporários.
Mas o que deveria ser um debate público sobre um tema de relevância social foi transformado em uma votação fechada ao povo, realizada sem transmissão ao vivo, dentro da sala da presidência da Câmara, um fato inédito, considerando que todas as sessões anteriores foram realizadas com total publicidade. Continua depois da publicidade
A pergunta que paira no ar é: o que motivou essa escolha deliberada por portas fechadas?
O projeto prevê a contratação por ANÁLISE DE CURRÍCULO, sem aplicação de provas, o que acendeu o alerta de entidades sindicais, concursados e até de alguns vereadores. A forma como o processo foi conduzido levanta suspeitas de que a seleção possa abrir caminho para indicações políticas, um velho artifício usado para alimentar curral eleitoral e favorecer aliados.
Desrespeito aos concursados
Enquanto se aprova um novo seletivo com urgência e nos bastidores, existem ainda profissionais aprovados e classificados no último concurso público que não foram convocados. Muitos deles compareceram à Câmara para cobrar seus direitos e exigiram o chamamento imediato, já que há vagas disponíveis em decorrência de aposentadorias e afastamentos.
A presidente do SINTE, professora Nadja Araújo, destacou que o teste seletivo, por natureza, deveria cobrir apenas licenças temporárias, e não vagas efetivas:
“O que o SINTE está fazendo é observar as aposentadorias, porque aí sim se abre uma vaga para que um concursado assuma”, afirmou. |
Já o presidente do SINDSERM, Leandro Lopes, foi mais incisivo:
“O correto é, chamar quem está aprovado, chamar quem está classificado para só depois fazer um teste seletivo completar e, através de prova. Nós lamentamos muito. Esse tipo de medida é um retrocesso, pedimos que a gestão municipal, o Sr. Emanuel, tenha um pouco mais de atenção com aquelas pessoas que sonharam, estudaram e aram num concurso público, que querem entrar pela porta estreita que é a do concurso público” |
Sessão secreta: o povo ficou de fora
O vereador David Soares foi um dos únicos a se opor publicamente ao projeto. Ele votou contra e deixou clara sua indignação com a maneira como o tema foi tratado:
“Esse famigerado projeto tem como pano de fundo a intenção do prefeito em politizar o processo. A educação está sendo tratada de forma equivocada e o debate deveria ter sido feito em plenário, com total transparência. Deixei bem registrado meu posicionamento, inclusive achei que esse debate deveria ser em plenário, para dar o máximo de publicidade possível de uma coisa de tão relevante importância para o povo da Parnaíba, mas infelizmente não foi possível porque a maioria (dos vereadores) entendeu que deveria ser feita na sala da presidência da Câmara.” |
Dos 19 vereadores, 16 votaram a favor, dois contra (David Soares e Zé Filho de Caxingó, esse último a confirmar) e uma abstenção (Fátima Carmino), mas sem transmissão ao vivo, a população foi impedida de acompanhar como votaram seus representantes.
O que está por trás da pressa e da opacidade?
A pressa em aprovar o projeto e o bloqueio à publicidade da sessão levantam questionamentos inevitáveis:
✅ Por que um projeto com tamanha repercussão social foi escondido da opinião pública?
✅ Por que optar por um seletivo por análise de currículo, e não por provas objetivas, mais isentas e técnicas?
✅ Quem serão os beneficiados por esse tipo de seleção?
✅ Por que tantos vereadores aceitaram deliberar algo tão importante longe dos olhos da população?
Com salas de aula sem professores, alunos sendo liberados mais cedo e dias sem aula por falta de quadro docente, a cidade exige soluções urgentes, mas com transparência, mérito e respeito à Constituição, e não em gabinetes fechados, legitimando indicações políticas travestidas de seletivo.
Enquanto isso, concursados aguardam. Professores denunciam. E a população, mais uma vez, assiste sem poder participar ou sequer saber.
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Da Redação do Tribuna de Parnaíba
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